quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Identidade, subletividade e sintoma na era contemporânea

Estava relendo alguns artigos sobre a temática da construção da identidade e me deparei com um de Yvana Oliveira que traz a tríade identidade, subjetividade e sintoma na era contemporânea  fazendo refletir sobre o processo de formação e transformação do indivíduo como ser influenciado e influenciador da sociedade e como esta influencia pode trazer enfermidades tanto da alma, como do corpo.

 A autora aborda a doença como sendo a manisfestação de uma patologia que transcende o físico, o palpável, o orgânico e o real, e remete-nos ao aspecto simbólico a qual só poderá ser compreendido a partir das vivências pessoais de cada ser. Reforçando a importância da construção de uma identidade pautada no equilíbrio e no amor. Contudo, a sociedade atual nos pede que a razão se sobreponha aos sentimentos e emoções. Rosseau nos diz que: “Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz.”. Como fica então a formação do indivíduo?

A noção de identidade contém duas dimensões: uma de individual e outra de ordem coletiva mas que estão obrigatoriamente interconectadas. Segundo Winnicott e Merleau-Ponty ( 1990), um indivíduo começa a existir quando é concebido mentalmente, ou seja está ligado ao desejo que unindo-se ao ato físico da concepção produzirá assim uma criança.

O feto desde o ventre materno já é um ser cheio de possibilidades que interage com o meio e sofre influências dele, porém, é somente após o nascimento que o bebê é reconhecido pela maioria das pessoas como um indivíduo.

Devido as limitações naturais, o bebê ainda não tem a percepção real do mundo  e dos objetos que o cercam , sua existência está pautada na satisfação das suas necessidades básica de sobrevivência, sendo a mãe ou quem faça o papel desta, a responsável por este suprimento.

Considera-se uma mãe suficientemente boa, aquela que supre as necessidades de afeto, nutrição e segurança para o bebê e é esta mesma mãe que terá o papel de introduzir seu filho, aos poucos, ao mundo exterior. Assim a criança vai percebendo que suas necessidades não provêm dela própria, mas de um objeto do mundo exterior.

O que deve ser ressaltado é que uma falha neste processo de individuação poderá resultar uma identidade fragmentada com problemas que repercutirão em sua vida, resultando em pessoas simbiotizadas com a mãe, logo sem uma existência própria. Yvana Oliveira ressalta ainda que com a aquisição do processo de individuação, o sujeito pode chegar a construir o que se chama de identidade, além do que a individuação é o primeiro passo para a subjetividade.

Segundo a teoria psicodinâmica  a construção da identidade do indivíduo depende do outro , a pessoa que exerce o papel de mãe fará a apresentação do mundo-objetal à criança, o que chama-se de auto-exo-transferência pois segundo Morin (1994) a referência a si-mesmo depende da referência que o indivíduo adquiriu do mundo externo.

Assim os indivíduos produzem a sociedade, que produz indivíduos, tornando o sujeito um objeto que ora se converte em causa, ora em efeito, ora em produto, ora em produtor, logo imaginamos que as experiências fornecidas pela mãe para a criança atuarão de forma determinante na constituição do indivíduo. Importante também ressaltar que estas experiências serão influenciadas pelas próprias vivências da mãe enquanto criança.

Conseguimos então entender a circularidade do processo de formação da identidade e da relação de causa e efeito. Referente a isso Oliveira nos fala que o coletivo vai determinar o modo de ser dos sujeitos no contexto histórico-social no qual está inserido. Se analisarmos como a sociedade se encontra na atualidade  perceberemos que há a predominância de desigualdades sociais, desestruturação familiar, misérias e torna-se claro qual o tipo de mundo está sendo apresentado as crianças e de que modo toda esta realidade está atuando na formação das identidades e subjetividades.

 Na ciência clássica, e mesmo nas ciências humanas e sociais, a subjetividade aparece como contingência, fonte de erros e assistimos à expulsão do sujeito no que se refere a sua singularidade e subjetividade, em detrimento de uma visão estruturalista, racionalista e cientificista. ( OLIVEIRA, 2004) 

Como conseqüência disto, os indivíduos da era contemporânea sofrem com enfermidades por não conseguirem subjetivarem e tornarem-se sujeitos, pois o sujeito não se separa do corpo social no qual se constitui e está inserido. Claro que cada sujeito é único e por isso mesmo, o impacto que as questões histórico-culturais e psíquica terão diferentes repercussões na formação dos sujeitos, alguns manifestam este impacto nas doenças.

Devemos considerar aqui doença como disfunção orgânica metabólica ou psíquica, que, por manifestar-se quebra a dinâmica da formação, construção e reformulação do indivíduo. O fato de estar doente significa que perdas e mudanças serão necessárias, de forma permanente ou transitória, e isto modificará sua identidade através da aquisição de novos processos de subjetivação, pois a doença abala a condição de ser.

Percebemos que nas sociedades ditas modernas, a racionalidade assumiu patamar elevado, devemos então repensar e tentar entender como os processos de formação dos indivíduos e dos sujeitos  estão destruindo suas singularidades, resultando assim diversas enfermidades comuns do nosso cotidiano. Só assim, conseguiremos planejar um cuidado individualizado e específico para para indivíduo.


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